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Revista
Latina de Comunicaci�n Social 61 enero �
diciembre
de 2006 |
Edita: LAboratorio de Tecnolog�as de la
Informaci�n
y Nuevos An�lisis de Comunicaci�n Social |
FORMA
DE CITAR ESTE TRABAJO EN BIBLIOGRAF�AS, SEG�N LA
APA: [Revisor/ra: El art�culo �A parole do amor e do sexo nas m�dias: o caso da tv aberta brasileira� es una aportaci�n al �mbito del an�lisis de las relaciones entre la comunicaci�n humana y los conceptos historicamente establecidos sobre el amor y el sexo, en particular en el caso de la TV abierta brasile�a. El autor sostiene la aplicaci�n de la teoria de la parole del frances Philippe Breton. Tratase de un trabajo consistente y que presenta una coherencia entre elementos te�ricos, argumentaciones y bibliograf�a.]
La palabra amor y sexo en los medios: el caso de la TV abierta brasile�a
Dr. Lu�s Carlos
Lopes
� [C.V.] Resumo:
Este
artigo foi constru�do a partir do exame da literatura sobre
as
rela��es entre a comunica��o humana e os
conceitos
historicamente estabelecidos sobre o amor e o sexo. Discute os
efeitos
do problema nas m�dias em geral. Mas, grande parte das
constata��es
e hip�teses arroladas est�o sob o forte v�nculo
do
exame detalhado de v�rios programas atuais da
televis�o
de sinal aberto brasileira. O autor defende a
aplica��o
da teoria da parole de Philippe Breton, como vetor de
compreens�o
da narrativa sobre o tema na tv do Brasil. Conclui pela
exist�ncia
de uma parole especifica sobre o amor e o sexo. Esta atravessaria os
conte�dos
do conjunto da programa��o televisiva. Ela �
descrita
e analisada, buscando-se estabelecer suas caracter�sticas e
suas
ra�zes mais profundas. Abstract: This article discusses sex and love in literature about human communication and their concepts historically established. Most part of his analysis is about the popular Brazilian TV programs. His work is based in parole�s theory of Philippe Breton, for understanding the same problem in Brazilian television. He concludes that has the specific parole for love and sex, crossing all the television programs. She has been described and analyzed, making relations between her characteristics and her origins. Key Words: Parole's theory � Philippe Breton � sexuality � communication � open TV � Brazil � sex � love � human communication Sumario:
1. Introdu��o. 2. Amor, sexo e corpos nas
m�dias.
3. Amor e sexo na televis�o aberta brasileira. 4.
Conclus�es.
5. Referencias. 6. Notas 1. Introdu��o As id�ias sobre o amor e o sexo, analisadas neste texto, referem-se principalmente ao amor concreto entre indiv�duos reais e �s representa��es midi�ticas deste problema. N�o � fundamental, aqui, analisar o amor em abstrato (metaf�sica do amor) ou o sexo como pr�tica biol�gica ou problema ps�quico. Estes problemas ser�o brevemente mencionados, com o objetivo de situar o leitor em uma discuss�o que ultrapassa os limites deste texto. Sabe-se que a metaf�sica do amor ocidental, tribut�ria de Plat�o, do cristianismo, chegando ao romantismo dos s�culos XVIII e XIX, ainda est� viva, sendo o substrato do discurso amoroso popular e, de modo mais fragment�rio, do erudito. Nesta metaf�sica, o amor � um sentimento que independe de condi��es materiais e que transcende � pr�pria condi��o humana. Este modo de entender o amor foi registrado em pinturas, esculturas e textos dos �ltimos 2.500 ou mais anos. As id�ias sobre a sexualidade foram baseadas nos controles e nas repress�es da maioria das religi�es, que sofreram, no in�cio do s�culo XX, um forte impacto derivado da obra de Freud e da instala��o da psican�lise. Desde ent�o, os conhecimentos biol�gicos, neurol�gicos e psicol�gicos sobre o sexo continuam crescendo e aportando novas no��es. A obra de Reich terminou por ser demonizada por diversas inst�ncias de poder, por insistir na import�ncia da compreens�o militante desta quest�o, vista por ele como estrat�gica para a emancipa��o humana. Contudo, a leitura da obra deste autor, depurada dos limites de conhecimento da �poca em que foi escrita [1], continua potente, pertinente e atual em v�rios de seus aspectos. Os sensos comuns tendem a trocar o amor pelo sexo e vice-versa. Nem sempre � poss�vel compreend�-los em separado ou entender as raz�es destas superposi��es. A metaf�sica do amor rejeita a puls�o sexual como base da exist�ncia do sentimento. O niilismo sexual de nosso tempo tamb�m separa metafisicamente a pr�tica do sexo dos conceitos sobre o amor. S�o problemas de densa tessitura tratados comumente como bastante ambig�idade. Este texto se circunscreve � proposi��o da discuss�o sobre a efetiva��o do amor e do sexo, tal como eles s�o reproduzidos pelas m�dias. O mais importante nesta investiga��o � o ato de relacion�-los, compreendendo o amor, o sexo e suas representa��es midi�ticas como partes da realidade material e simb�lica. Esta �ltima entendida com os seus equivalentes no mundo curvo e intercambiante das mais diversas m�dias. Destas, tem-se maior interesse nas que utilizam imagens e sons para comunicar, por serem as mais capazes de imitarem a vida de modo direto e de sugerir padr�es de comportamento para um grande n�mero de pessoas. O interesse pelas representa��es do amor e do sexo veiculados pela televis�o justifica-se pelo enorme impacto social desta m�dia no mundo contempor�neo. No Brasil, parte-se da id�ia da centralidade deste meio de comunica��o, o que n�o implica na desvaloriza��o da import�ncia e no abandono do estudo das demais m�dias t�cnicas e humanas. Significa compreender que das m�dias socialmente usadas por aqui, a tv aberta � mais vista e comentada, fazendo convergir os conte�dos do que � tratado nas demais. No mesmo pa�s, grande parte do aprendizado social contempor�neo sobre o que o amor e o sexo s�o, e como devem ser praticados, � tribut�rio do que se v� na televis�o. Estes temas, tradicionalmente, eram e ainda o s�o parcialmente interditados na conversa��o ordin�ria, devido aos preconceitos com origem na moral religiosa de s�culos. � l�cito falar de amor no sentido convencional do termo, e visto como pouco aceit�vel falar de sexo com maior naturalidade. Entretanto, falar sobre o que se v� na tv e em outras m�dias, n�o � atualmente considerado como algo indesejado ou imoral. Isto quer dizer, que o di�logo social sobre estes temas usa das m�dias para serem efetivados e legitimados, driblando tabus e conven��es. Sendo objetos sociais, os diversos meios de comunica��o servem como instrumentos da comunica��o humana, isto �, s�o aparatos que a potencializam e a ajudam no seu processo de normaliza��o. As id�ias sobre o amor e o sexo foram muito cultivadas por v�rias civiliza��es. Jamais houve um �nico ponto de vista sobre estes temas. O tratamento dado ao tema da afetividade e da sexualidade sempre comportou vis�es distintas, de como estes sentimentos e pr�ticas deveriam ser constru�dos. Na leitura da B�blia, do Cor�o, da literatura laica ocidental, dos livros cl�ssicos da cultura �rabe, nos exames da cultura oral e escrita de v�rios povos e, em outro exemplo, no estudo da estatu�ria greco-romana, africana e pr�-colombiana, � poss�vel ver surpreendentes peculiaridades. No mundo dito ocidental, � recorrente a constru��o de uma linha que vai dos gregos, passa pelos romanos, pelo medievo europeu, pela a idade moderna e chega � modernidade p�s-revolu��o francesa [2]. Nesta seq��ncia de tempo, teriam sido constru�dos os pilares das culturas humanas. O amor e o sexo, tal como hoje s�o praticados, teriam origens definidas por esta evolu��o civilizacional unidimensional. Eliminam-se ou relativizam-se outras culturas e suas poss�veis imbrica��es com a forma��o de conceitos e comportamentos afetivos e sexuais. A domina��o ocidental vence pela segunda vez, desconhecendo as contribui��es das culturas dos dominados. Se em todas as culturas, essas quest�es foram consideradas importantes, o modo de represent�-las e de viv�-las jamais seguiu a uma �nica vari�vel. Mesmo no que se convencionou chamar de �ocidente�, as diversidades s�o not�veis. A partir de modelos comuns referentes �s origens, o problema tem sido reconstru�do de modo diferente em cada �poca e lugar. In�meras influ�ncias se interpenetram e as mudan�as na ordem material do mundo acabam implicando em diferencia��es significativas na formula��o do que se compreende como amor e sexo. A cada gera��o, os paradigmas sobre estes assuntos s�o revistos e substitu�dos por outras id�ias que ir�o influenciar por um tempo, at� cederem espa�o para novas vis�es. Isto se repete ao infinito, bem como as interinflu�ncias entre culturas desenvolvidas em espa�os geogr�ficos distintos, mas que fizeram algum tipo de interc�mbio, derivado dos contatos s�cio-econ�micos e culturais mantidos. � dif�cil acreditar que as id�ias sobre o amor e o sexo n�o tenham circulado entre o que se convencionou chamar de ocidente e de oriente. Portanto, os autores que se ap�iam no eurocentrismo produzem fal�cias. Nas Am�ricas, negar as influ�ncias africanas e pr�-colombianas consiste em falsear o problema da forma��o das culturas locais. No Brasil e nos demais pa�ses da Am�rica Latina, existem in�meros vest�gios das presen�as aut�ctones na cultura do afetivo e do sexual. Na geografia da escravid�o, que inclui de modo direto o Brasil, os EUA e o Caribe, a presen�a africana marcou de modo indel�vel os mesmos paradigmas. � verdade que o racismo nega estas origens, mas elas n�o teriam como n�o existir. S�o muito vis�veis na can��o popular das Am�ricas, quando ela celebra o amor ou fala da sexualidad [3]. No Brasil, o samba registra o sincretismo cultural que re�ne a sensibilidade afro-brasileira �s heran�as ib�ricas. Nas Am�ricas hisp�nicas, a presen�a nativa � f�cil de se ver, na musicalidade e no modo de conceber o problema. Isto � detect�vel em in�meros tra�os da cultura da regi�o. Mesmo na Europa, a massiva e longa �mil anos� presen�a moura na pen�nsula ib�rica deixaram marcas vis�veis no modo de entender o problema. Estas marcas s�o f�ceis de se constatar examinando-se, por exemplo, a obra de Cervantes ou, ouvindo, na cultura popular, o lamento afetivo cantado pelo fado portugu�s tradicional ou pelas p�rolas musicais do conjunto Madre de Deus. A id�ia do amor e a representa��o da pr�tica sexual, desde o fim da idade m�dia europ�ia, tenderam tamb�m a revelar os la�os culturais que os povos ditos ocidentais estabeleceram no �ltimo meio mil�nio de hist�ria. Nesta fase, a expans�o comercial e mar�tima implicou um aumento ainda maior das conex�es entre as culturas. Os conceitos acreditados socialmente, tanto nas elites como nas camadas populares, sofreram m�ltiplas influ�ncias. � importante que se compreenda que o conceito de amor � de natureza sociocultural e, como j� se disse, particular a cada espa�o em que se desenvolve. Isto n�o nega que se beba o leite derramado por culturas d�spares e que existam aproxima��es e, ao mesmo tempo, claras separa��es. Ama-se e pratica-se o sexo de determinado modo, por meio da jun��o da tradi��o pr�-existente aos problemas trazidos por contextos novos. Estes alteram a percep��o humana e reconfiguram as cren�as dominantes. Estas tendem a seguir os fundamentos b�sicos das culturas que as produzem, atualizando-os e permitindo suas perman�ncias. Mesmo hoje, com a amplia��o dos contatos intercivilizacionais, o amor e o sexo s�o pensados e praticados de modo diferente, em espa�os geopol�ticos socioculturais distintos. Dentro desses, as varia��es s�o apreci�veis, devido � apropria��o que cada classe e grupo social fazem da cultura comum. Diferen�as n�o significam que, em um exemplo, existam espa�os abissais entre o conceito �rabe e europeu de amor. Sugerem, apenas, que a leitura das tradi��es pode ser, ao mesmo tempo, convergente e divergente, tal como ocorre na Am�rica Latina. As trocas culturais entre europeus e �rabes continuam ocorrendo ainda hoje. Isto � devido � forte emigra��o dos �ltimos anos em dire��o � Europa e a presen�a e in�meros interesses econ�micos de pa�ses europeus no norte da �frica e no Oriente M�dio. Obviamente, os racismos, os fundamentalismos e o cartesianismo exacerbado vinculados aos interesses do capital inibem o aumento destas trocas, bem como impedem que elas sejam, quando existem, reconhecidas e compreendidas. Se, presentemente, acredita-se que o sentimento do amor � universal, isto se refere � ampla interpenetra��o das culturas humanas e �s mitologias decorrentes da globaliza��o das culturas. O ato de um ser ter interesse em outro, de se acasalar, n�o significa sequer que um casal seja formado de modo duradouro. N�o � preciso que sejam amantes, isto �, praticantes do amor e do sexo. Eles podem praticar o acasalamento sem acreditar em toda m�tica ocidental e, como tamb�m, na oriental sobre o amor. O que se quer enfatizar � que n�o existe naturalidade a priori em nada da vida social, inclusive no amor e no sexo. Os impulsos do corpo humano s�o mais ou menos domesticados pelas culturas que os envolvem e pelas decis�es operadas por seres reais. A sexualidade, vinculada ou n�o ao sentimento do amor, � compreens�vel por seus aspectos biol�gicos, sociol�gicos e psicoculturais. Seu exerc�cio multifacetado consiste em constru��es complexas desenvolvidas na dire��o de fazer o corpo e a mente funcionarem de acordo com preceitos definidos pelo entorno social e pela realidade econ�mica envolvente. O sentido reprodutivo e o do prazer s�o constru��es que v�o muito al�m dos impulsos e atos biol�gicos imanentes ao sexo. A mir�ade de formas assumidas pela prostitui��o contempor�nea, em um outro exemplo, tem o sexo, decorrente dessa atividade, conformado pela sua instrumentalidade. Niklas Luhmann (1991) entendeu que, na modernidade, o amor transformou-se em um �meio de comunica��o simbolicamente generalizado�. Segundo o autor alem�o, partid�rio da teoria dos sistemas, o amor n�o seria preponderantemente um �sentimento em si mesmo�, mas, sim, um c�digo de comunica��o com regras determinadas socialmente. O seu movimento seria personalizado e distinto da m�tica desenvolvida dos meios de comunica��o mais tradicionais. Prop�e, deste modo, a exist�ncia de uma din�mica s�cio-individual da afetividade humana, seletiva e idiossincr�tica. O amor funcionaria como uma troca de informa��es entre as partes envolvidas, confirmando a tradi��o do positivismo l�gico, quando aplicado ao campo dos estudos sobre comunica��o. Destas id�ias, s�o aceit�veis, dentro de uma perspectiva hermen�utica cr�tica de profundidade, a exist�ncia do meio de comunica��o simb�lico e generalizado, denominado pelo senso comum como amor. Entretanto, as evid�ncias emp�ricas levam a acreditar que as sociedades contempor�neas v�o muito al�m da codifica��o do afeto. A perspectiva hermen�utica implica que se busque interpretar os v�rios sentidos deste sentimento que, certamente, s�o maiores do que a simples troca de mensagens. Os indiv�duos amam, no sentido pr�tico do verbo, por meio da conversa��o, da gestualidade e do contato corporal, isto �, eles trocam muito mais do que flu�dos ou informa��es epis�dicas. Os fen�menos do amor e do sexo s�o reconhecidos pelos entes sociais da modernidade como essenciais � vida, portadores do devir individual e das possibilidades de uma exist�ncia suport�vel. Felizes seriam os que amam, a infelicidade estaria desenhada pela aus�ncia do amor. Quanto mais profunda for a liga��o, imagina-se que os amantes ir�o mais discutir suas inser��es no mundo da vida, compartilhar suas concep��es de mundo e definirem como v�o decidir os seus futuros. Isto � feito em um quadro sociocontextual preciso, onde contam os elementos de similaridade �os contatos afetivos duradouros s�o mais comuns entre pessoas dos mesmos extratos socioculturais�, ou de diferencia��o social, racial, cultural e pol�tico-ideol�gica �elementos de disputa e de antagonismos. Neste contato, a sociedade se materializa em um dos seus la�os fundamentais, isto �, viver em sociedade significa igualmente a possibilidade de se amar e ser amado, mesmo que as rela��es n�o sejam satisfat�rias. O amor e o sexo s�o identificados pela grande maioria como as mais importantes pontes de contato entre as individualidades, isto �, como o verdadeiro cimento da vida social. Estes ideais acalentados conflitam, no mundo da vida, com: o n�mero infinitamente crescente de pessoas s�s; a narrativa social de in�meros problemas relacionados � vida em comum; o aumento, como nunca visto, dos div�rcios, uni�es informais, casos de gravidez precoce, viol�ncias dom�sticas e sexuais etc. Em suma, o edif�cio social e as m�dias afirmam coisas sobre o amor e o sexo que de fato n�o se vivem na sua integralidade. A metaf�sica do amor continua viva, hoje, relacionada ao materialismo pragm�tico contempor�neo, como duas faces da mesma moeda. Esta realidade indica a preval�ncia da instrumentaliza��o das rela��es interpessoais e aposta na validade de regras duras de funcionamento das rela��es afetivas e sexuais. Na vida real, os happy ends s�o raros e a felicidade afetiva e sexual n�o � necessariamente para sempre, por isto n�o respeita a qualquer continuidade. Os problemas materiais afetam por demais os de natureza afetiva e sexual. Vive-se de um jeito e imagina-se a vida de outro, tal como Bauman (2004) enfatiza, compensando-se as desditas e in�meras trag�dias e com�dias inerentes � vida no mundo moderno. Nesta quest�o, o concurso da a��o individual tem enorme peso. Escolher, dentro das op��es dadas pelo contexto s�cio-ideol�gico e cultural envolvente, nem sempre � uma tarefa f�cil.
Os temas do amor e do sexo dominam, n�o casualmente, segmentos inteiros das ind�strias culturais contempor�neas. Est�o fortemente representados nas produ��es cinematogr�ficas, televisivas e fonogr�ficas. S�o bastante exploradas nas m�dias escritas, auditivas, visuais contempor�neas e nas derivadas das novas tecnologias. A refer�ncia ao afetivo e ao sexual, quase sempre em ordem invertida, consiste tamb�m na base de constru��o dos artefatos publicit�rios que vendem qualquer coisa, inclusive a si pr�prios. Antes da exist�ncia dos atuais meios t�cnicos de comunica��o massivos, j� se falava disto nos livros e outros materiais escritos, desenhados e produzidos para amplo consumo nos s�culos XVIII e XIX. O romance moderno e popular � um g�nero liter�rio compreendido por muitos escritores e leitores, como fundamentalmente uma hist�ria de amor, com algumas pitadas de natureza sexual. Sua populariza��o, por meio dos folhetins, aproximou-o das tradi��es orais e escritas mais antigas, constru�das com claros objetivos de educar e preparar para a vida, a partir do refor�o de cren�as morais subjacentes � ordena��o social. A ind�stria cinematogr�fica de massa, notadamente a constru�da nos EUA do s�culo XX, seguiu este padr�o, transformando a love story, seguida pelo happy end, em g�nero previs�vel que ainda atrai a milh�es de expectadores. A luta do bem contra o mal, t�pica do puritanismo religioso do mesmo pa�s, quase sempre surge condimentada pelo caso de amor e pelo exerc�cio subrepet�cio da sexualidade. Ao longo s�culo, este modo de contar hist�rias foi sendo modificado em suas formas, mantendo o essencial de seus conte�dos. Uma das altera��es mais not�veis foi o fato de se tornar a sexualidade cada vez mais expl�cita e instrumental, raramente perdendo-se o controle da moralidade de �poca. O amor e o sexo s�o, como se pode facilmente constatar, a base das hist�rias contadas pelo cinema de grande bilheteria e produ��o em s�rie da �ltima cent�ria. Est�o igualmente presentes no que � conhecido como cinema de arte e nos filmes que ficam no meio deste percurso. O primeiro g�nero cinematogr�fico foi originalmente fortemente influenciado, tal como a teledramaturgia, pela literatura popular do s�culo XIX e XX ou por releituras de textos cl�ssicos e populares passados. O segundo, concebido como obra de arte, aproxima-se do modelo liter�rio culto, propondo uma interpreta��o para al�m dos sensos comuns consensuais. Tende a investigar as bases materiais e simb�licas das rela��es interpessoais e desmistificar o amor metaf�sico e o sexo instrumental. Nem sempre isto ocorre de modo completo, a for�a sociopol�tica destes se imp�e, conseguindo distorcer o produto final. Do ponto de vista das m�dias t�cnicas, bem como da conversa��o entre as pessoas, o que se disse acima implica em compreender que existem formas de se contar uma hist�ria de amor e de se falar sobre sexo. Elas t�m origens na oralidade, transformada em escritura e, na modernidade, industrializada como texto liter�rio popular ou concebida como arte erudita. O que o cinema fez, inicialmente, foi aduzir imagens aos textos adaptados � sua linguagem imag�tica. Pouco a pouco, o cinema apartou-se de suas origens liter�rias e passou a privilegiar suas pr�prias hist�rias, desprendendo-se e seguindo aos seus pr�prios padr�es. Manteve-se a refer�ncia ao texto liter�rio, tal como tamb�m ocorreu na dramaturgia radiof�nica. Mas, os roteiros escritos para o cinema ganharam os seus pr�prios contornos e especificidades, sendo constru�dos como parte de uma nova linguagem comunicacional. Nascia um estilo, uma nova escritura, com finalidades distintas das anteriores. A televis�o, no seu segmento teledramat�rgico, sofreu uma evolu��o similar, aproveitando as t�cnicas pr�-existentes da literatura, do r�dio e do cinema de se falar de amor e de sexo [4]. A pr�tica televisiva foi conformando suas pr�prias tecnicalidades textuais. Na tv de hoje, o texto � especifico, isto �, existe uma narrativa pr�pria que serve a este meio t�cnico de comunica��o, n�o se prestando para outras finalidades. Sob o ponto de vista de conte�do, as mudan�as s�o menores do que as que ocorreram no aspecto formal. Quanto ao uso da produ��o em s�rie e do formato industrial ou a concep��o de �autor� e de produ��o da obra art�stica, na televis�o sempre existiu espa�o para ambos e para in�meras ambig�idades. S�o os seus sujeitos b�sicos �produ��o e anunciantes� que resolvem o problema da predomin�ncia, nos contextos onde as obras s�o produzidas e exibidas. Por raz�es econ�micas e pol�ticas, na tv atual, predomina o g�nero industrial. Entretanto, n�o raro surgem e s�o mostradas ao grande p�blico obras de valor art�stico inquestion�vel [5]. O que mudou muito na produ��o de imagens televisivas, nos �ltimos anos, foi, como no cinema, o espa�o cada vez maior dado � representa��o da atividade sexual. Esta foi perdendo o pudor e se liberando da repress�o de um passado de forte controle moral-religioso. Progressivamente, diminu�ram as m�scaras e rasgaram-se alguns v�us, substitu�dos por outras e outros. H� uma sintonia relativa entre as mudan�as de costumes sociais e as altera��es estil�sticas da transmiss�o da imita��o da vida por meio de imagens e sons pelos modernos meios de comunica��o. Os sensos comuns hegem�nicos dominam a produ��o de massa. Isto �, os produtos s�o constru�dos de acordo com o que previamente o tecido social acredita ou com o que o poder de plant�o deseja difundir e propor como verdade. A reifica��o, que pode ser consensual ou for�ada, � chave deste aspecto da produ��o e do consumo destes produtos da modernidade. Nas revistas e nos jornais impressos de hoje, bem como nos seus espelhos eletr�nico-virtuais, � muito comum a investiga��o da vida privada, afetiva e sexual das personas midi�ticas. Sugerem-se �s pessoas comuns como devem ser o sexo e o amor, falando-se da afetividade e da sexualidade de modo padronizado e vend�vel para todos. Pautam-se comportamentos, tratando-os como produtos �elefantes�, que geram o desejo de consumir outros objetos e servi�os. O sistema de produ��o de artefatos culturais � muito amplo e tem tent�culos quase incomensur�veis, estando perfeitamente integrado ao sistema geral de consumo e aos sensos comuns e tradi��es paridas pela vida social, em conson�ncia com as m�dias. Adorno e Horkheimer chamaram a isto de ind�stria cultural. O que a realidade emp�rica contempor�nea informa � a exist�ncia de m�ltiplas ind�strias desta natureza. Na internet, a presen�a desta varia��o da cultura �, igualmente, forte e de grande interesse dos usu�rios. H� lugar para in�meras formas de trocas afetivas e para incont�veis representa��es das id�ias e das pr�ticas sobre esses assuntos. A pornografia �prima bastarda do amor e do sexo� est� representada de mil e uma maneiras na m�e de todas as redes, bem como � um segmento muito lucrativo da ind�stria cinematogr�fica e da videogr�fica. O uso de imagens � a moeda de troca integradora de v�rias m�dias. Registros fotogr�ficos, por exemplo, circulam em m�dias distintas, comunicando informa��es e argumentos, sugerindo express�es emotivas e est�ticas aos seus consumidores. A tem�tica afetivo-sexual � muito presente nos produtos da ind�stria fonogr�fica contempor�nea. Em momentos de intensa politiza��o, as can��es dos bardos engajados tendem dar espa�o maior a outros temas, como se viu no Brasil da �poca da ditadura militar (1964-1985). Associam tamb�m o amor e o sexo a outras dimens�es da vida, aproximando-se mais da realidade material. Em contextos de calmaria pol�tica, h� sempre a preval�ncia escapista de cora��es partidos e a da dor pat�tica de perdas afetivas ou a relativa �s ditas trai��es. Em menor quantidade, a can��o serve como declara��o de amor, comemora um encontro ou a conquista de quem se ama. Os sujeitos dominantes da can��o pop s�o os homens, transformados em bardos que exercitam suas l�ricas para o g�udio masculino e, secundariamente, feminino. H� exce��es, onde o amor da mulher pelo homem tamb�m � lembrado, assim como suas desditas, perdas e trai��es. Ainda mais raramente, outras formas de amor s�o celebradas. Neste mundo fant�stico e absolutamente virtualizado pelas imagens mentais que o som produz, a vida resume-se aos queixumes de amor, ao ci�me, compreendidos como justo e necess�rio. O prazer sexual, isto �, � constru��o de uma vis�o deste tipo de rela��o interpessoal, persegue a mesma virtualidade. Todo o resto desaparece ou � sublimado, dependendo do valor est�tico de cada can��o ou de determinadas produ��es em s�rie e das implica��es hist�rico-filos�ficas mais ou menos consistentes de suas po�ticas. Como n�o poderia deixar de ser, os mesmos assuntos s�o muito discutidos na conversa��o interpessoal. S�o motivos de indaga��es intraps�quicas e de muitas preocupa��es individuais. As m�dias falam tanto disto, levando a crer que esta dimens�o da vida � a �nica que realmente importa. O mundo da vida, recriado no universo midi�tico, � tamb�m o local imagin�rio do amor e dos prazeres do sexo. Este espa�o virtualizado interconecta-se com a realidade material, com limites n�tidos. Ningu�m pode viver exclusivamente para amar e fazer amor todos os dias e todas as horas, por mais que assim o deseje ou imagine que seja poss�vel. Nas grandes m�dias, o desejo sai dos espa�os rec�nditos da subjetividade e se realiza em rela��es carnais aparentemente concretas. Possivelmente, os consumidores dos artefatos simb�licos produzidos imaginam que o visto, o ouvido e o lido s�o refer�ncias a corpos, algum dia, qui��, alcan��veis pelo tato, e n�o apenas miragens do deserto midi�tico. O enorme sucesso do nu feminino e, hoje, tamb�m do nu masculino pode ser compreendido deste modo. N�o se mostra tudo, mas a cada dia pode se ver mais um pouco, sonhando-se com possibilidades e mist�rios quase sempre inalcan��veis, mas que mant�m viva a possibilidade de realiza��o material, feita, de modo usual, por substitui��o. Na vida concreta, � preciso que as pessoas ajustem o que v�em nas m�dias com as suas possibilidades. A cren�a da �cara metade� ou do �pr�ncipe� ou da �princesa�, ambos id�licos, necessita escutar o coaxar dos p�ntanos. As decis�es afetivas e sexuais dos mais vividos ou menos ing�nuos consideram, por vezes de modo instrumental, quem pagar� a conta e quais ser�o as conseq��ncias pr�ticas de se assumir determinada rela��o. No reino do capital, a vida pr�tica � resolvida de modo direto. Entretanto, isto n�o impede que seja pensada de modo metaf�sico. O amor e o sexo est�o presos nos liames da economia, da sociedade e da cultura de seu tempo. Libert�-los destas amarras n�o � uma tarefa sempre poss�vel ou f�cil. Conseguir isto significa romper com a press�o social alienante que oprime e por vezes destr�i. O sexo nos meios de comunica��o contempor�neos � representado com regras bastante definidas. Sabe-se o que se ir� ver, considerando-se o g�nero, o local e a �poca em que o artefato foi produzido. No cinema norte-americano, por exemplo, existem, desde h� muito, receitas do que se pode e n�o se pode mostrar. Na vers�o pornogr�fica do mesmo cinema, explora-se o inverso destas regras criando-se outras que, igualmente, representam a sexualidade humana de modo metaf�rico. Luzes e sombras reconstroem corpos reais, transformando-os em artefatos midi�ticos. Nas telenovelas latino-americanas, os modelos de exibi��o desses corpos s�o fortemente calcados na grande ind�stria cinematogr�fica do Norte e adaptados �s caracter�sticas espec�ficas deste tipo de produ��o. Os ideais de beleza acordados pela publicidade e pela cultura de massas ocidentais repetem-se neste g�nero, com as adapta��es necess�rias ao contexto brasileiro. As belas e os belos s�o quase todos brancos, t�m as �medidas� certas, esbanjam juventude, sa�de e sensualidade. H� um espa�o reduzido para os n�o-brancos e, ainda menor, para os que n�o encarnam personas em corpos divinizados, tais como esculturas em carne e osso. Sem beleza e juventude, informam as telenovelas, o amor e o sexo n�o t�m a mesma legitimidade, n�o se consegue chegar ao Olimpo e desfrutar do n�ctar dos deuses. Quando � necess�rio usar atores e personagens maduros, por raz�es dramat�rgicas ou comerciais, acentuam-se os cuidados para que pare�am ser mais jovens do que o s�o e que acalentem este desejo, sem qualquer d�vida ou questionamento [6]. Em todas as m�dias, o corpo � a met�fora da afetividade e da pr�tica sexual. O corpo do homem tem a nudez menos exibida, valendo a velha id�ia da posse e da superioridade racional. O feminino, com todas suas curvas e reentr�ncias, � carne, sendo exibido como trof�u e par�metro da beleza f�sica humana. A idealiza��o das formas que este corpo deve necessariamente ter � uma preocupa��o obsessiva, relacionada aos cultos da juventude eterna, sa�de e beleza perfeitas. Estar nestes par�metros, aceitos consensualmente pelo grande p�blico, � a condi��o mais importante para estrelar em pap�is de destaque, apresentar programas ou simplesmente compor a cena como figurante. Os corpos que n�o se encaixam nestes padr�es funcionam como pe�as grotescas que validam a beleza dos deuses e deusas televisivas. A exibi��o dos mesmos torna-se uma necessidade, para que se crie um contraponto e uma aproxima��o com o grande p�blico. O grotesco valida o sublime materializado nas imagens de corpos que se comunicam com os tele-audientes e os orientam de como devem ver e viver a vida. Este jogo de imagens e conceitos resulta no refor�o da domina��o simb�lica, porque o p�blico sentir-se-� sempre menor do que os seus her�is. Sobra a devo��o, a aceita��o da inferioridade e a busca de consumir o que o mercado aponta como vetor de aproxima��o destes modelos sobrenaturais de beleza.
Converge para televis�o aberta, grande parte das manifesta��es midi�ticas contempor�neas relativas � afetividade e � sexualidade. Estes s�o os assuntos focados por in�meros programas de modo expl�cito ou impl�cito, at� mesmo em telejornais ditos s�rios e defensores da �verdade� da not�cia. Na teledramaturgia, est� o ponto principal de tratamento da quest�o. Nos programas de audit�rio, entrevistas, humor�sticos etc, o sexo, mais do que o sentimento do amor � mat�ria que desperta interesse, emociona e propicia a ambicionada catarse entre o meio e o p�blico. A publicidade televisiva �, na grande maioria dos seus artefatos, alusiva aos mesmos problemas, que s�o relacionados � felicidade e incorporados � cria��o do desejo de se adquirir produtos que pretensamente permitiriam uma melhor performance. Deste modo, vendem-se simbolicamente autom�veis, cigarros, cerveja, servi�os banc�rios, planos de sa�de, dentre outras mercadorias e servi�os associando-os ao amor e � pr�tica sexual. Acredita-se na exist�ncia de uma parole (Breton, 2003) sobre o amor e o sexo na televis�o brasileira. Esta seria constitu�da por algumas forma��es discursivas, compostas por informa��es, argumentos, express�es emotivas e est�ticas [7]. Portanto, esta parole [8] seria uma das faces da comunica��o feita por meio da televis�o. O seu grau de abrang�ncia e complexidade atravessaria toda a programa��o produzida no Brasil, com regras mais ou menos comuns, fazendo pouca diferen�a o programa por onde ela � repassada para o grande p�blico. Este dialogaria sobre estes assuntos, usando os recursos disponibilizados por essa m�dia. Isto porque ainda existiriam imensos obst�culos no tecido social do pa�s para se conversar mais livremente sobre a afetividade e, ainda menos, sobre a sexualidade. O relativo sil�ncio social sobre estes temas seria quebrado com a legitima��o dada pela televis�o, que �ousaria� dizer coisas que as pessoas gostariam de falar ou de ouvir. A moral sexual p�blica e privada do pa�s � ainda muito conservadora. As interdi��es s�o in�meras, variando para mais ou para menos, de acordo com o seu espectro sociocultural. Neste quadro, s�o necess�rias v�lvulas de escape. De modo geral, � considerado impudico falar de sexo, mesmo entre os pr�ximos. O assunto � comentado por alguns, por meio do chiste e do palavreado de baixo cal�o. Pouco se fala do sentimento do amor de modo realista, prevalece a alus�o rom�ntica da metaf�sica afetiva. Frente a estes problemas, a programa��o da tv responde paradoxalmente �s ansiedades causadas pela repress�o sexual e afetiva. Esta explica o enorme sucesso de p�blico, quando o tema � abordado na tv de modo mais expl�cito. Certamente, a parole televisiva sobre o amor e o sexo na tv aberta n�o est� isolada da sociedade brasileira, do mundo e nem das demais m�dias. Representaria, de fato, uma faceta da parole humana sobre estes assuntos, aplicada aos problemas espec�ficos do Brasil e as caracter�sticas de sua televis�o. Por isso, � poss�vel reconhecer nela, diversos fragmentos da fala p�blica e privada, de natureza pessoal e institucional, do cinema, da literatura etc. A tv espelha e transmite o que apreende das demais m�dias t�cnicas e humanas, tal como se fosse um espelho capaz de refletir e, ao mesmo tempo, poder ser atravessado por pessoas reais na condi��o do seu grande p�blico e no papel dos produtores da programa��o. A tv aberta funciona como uma das mais importantes refer�ncias contempor�neas locais dos par�metros da moral sexual. Para o seu grande p�blico, �, a priori, v�lido praticar o que os programas apontam como poss�vel e correto. O que Habermas (1989) chamaria de moral convencional, isto �, a herdada de um centro de poder simb�lico, encontra na tv um celeiro pr�spero. A m�dia televisiva oscila entre essa moral e a pr�-convencional, isto �, a an�rquica e infantilizante. N�o h� grande espa�o para a difus�o da moral p�s-convencional, que seria baseada na id�ia de sugerir �s pessoas que fizessem julgamentos independentes e c�nscios de suas responsabilidades. Neste sentido, a parole televisiva atua de modo similar �s das igrejas e escolas, sugerindo e buscando o convencimento sobre o que � certo e errado. A transmiss�o disto faz com que transitem no tecido social as morais produzidas por grupos socioculturais diferentes e em condi��es de ditar aos outros o que � justo ou injusto. H� um espa�o delimitado e controlado politicamente de difus�o de varia��es de posturas morais recolhidas na vida social, sobre o que s�o o amor e a sexualidade humana. No �mbito privado, a sociedade brasileira �, de h� muito, bastante sexista e homof�bica. O moralismo religioso, atualmente de diversas origens, interdita temas considerados obscenos, retirando-os da conversa��o ordin�ria ou os separando como conversa de homem ou de mulher. Esta repress�o, incompat�vel com a atual fase da modernidade, tem na tv e em outras m�dias um ponto limitado de desafogo. Publicamente, cultiva-se por meio das grandes m�dias, a id�ia de liberalidade e toler�ncia moral. De fato, a abordagem destes temas pelas emissoras de sinal aberto em quase nada modifica as cren�as morais hegem�nicas na esfera privada. Na maioria dos casos, os valores tradicionais s�o reafirmados por meio de suas difus�es impl�citas e expl�citas. Todavia, o efeito � paradoxal, a tv d� a sensa��o de que os brasileiros s�o livres para praticarem, o que as religi�es de inspira��o hebraico-crist�-mu�ulmana chamaram de pecado. A televis�o aberta repassa, para o grande p�blico, informa��es sobre como deve ser a pr�tica da afetividade e o exerc�cio da sexualidade no tempo presente. Os sujeitos deste repasse s�o m�ltiplos, incluindo interesses de Estado, os de natureza comercial e as ansiedades ps�quicas do grande p�blico. Completando o c�rculo da comunica��o, o que passa na tv � amplamente discutido na conversa��o interpessoal. Nela, est� a origem dos conte�dos e, ao mesmo tempo, o destino. Com o aparecimento dantesco da AIDS, informar passou a significar salvar vidas, diminuir despesas hospitalares e ambulatoriais, mantendo a for�a de trabalho dos tele-audientes em condi��es operacionais poss�veis. A presen�a da doen�a trouxe para televis�o a publicidade do uso dos preservativos e a propaganda do necess�rio cuidado da escolha dos parceiros. As DSTs �doen�as sexualmente transmiss�veis�, antigo tabu, vem sendo levantadas e discutidas em alguns programas. A tv tamb�m informa sobre os novos tipos de relacionamentos, principalmente na teledramaturgia, espelhando mudan�as na vida social. Discute com o seu p�blico, como deve ser o amor e o sexo na moderna sociedade brasileira, apontando tend�ncias e diferen�as, a partir, sobretudo, do olhar e da vida das classes m�dias urbanas do Rio de Janeiro, S�o Paulo e de um nordeste idealizado. Os melodramas exploram os limites da moral sexual do pa�s, na dire��o de patamares que permitam a introdu��o de costumes e o decorrente consumo de produtos. Novos paradigmas morais implicam em centenas de produtos a serem consumidos. Estes cumprem fun��es econ�micas e tamb�m tem o papel simb�lico de incluir os tele-audientes no fant�stico mundo da modernidade contempor�nea. A tv informa sobre os v�rios comportamentos existentes ou esperados em classes, grupos e regi�es diversificadas. Deste modo, esta m�dia constr�i retratos da realidade afetivo-sexual do pa�s, de acordo com m�ltiplos interesses. N�o h� uma investiga��o cient�fica do que realmente ocorre neste dom�nio. O que se depreende � que existe um enorme esfor�o de colocar nesta m�dia o que as pessoas j� sabem ou imaginam saber sobre o assunto. Neste sentido, os preconceitos e os estere�tipos t�m um espa�o muito maior do que a cr�tica dos mesmos. Reserva-se o local da cr�tica, mantendo-se o fluxo informacional da tradi��o e do senso comum. Dos preconceitos sociosexuais mais repetidos pela tv aberta, destaca-se, hoje, em primeiro lugar, o sexismo. As mulheres s�o desenhadas como carne, sedentas de sexo e de se exibirem para os homens. S�o chamadas de pouco inteligentes, emotivas e incapazes de usar a raz�o. O falocentrismo domina o cen�rio e o modo de se construir os programas. A homofobia � muito forte, por mais que os espa�os de contesta��o e de afirma��o da homossexualidade tamb�m existam. Quanto mais popular � o programa, mais forte se repete a id�ia da inferioridade moral dos gays, tratados pelo chiste e transformados em pe�as grotescas. Constroem-se alegorias sobre o problema, transformando pessoas reais em personagens que se transformam em objeto de esc�rnio p�blico. Faz-se do riso, um motivo de segrega��o e desvaloriza��o sistem�tica [9]. Uma das formas de se conseguir a cumplicidade do p�blico � a de valorizar o sexismo homossexual. Nesta senda, faz-se com que personagens gays ataquem verbalmente as mulheres de modo direto ou indireto. Deste modo, faz-se uma alian�a simb�lica, faloc�ntrica, contra um �inimigo� comum: as mulheres. Outra � a de tratar os homossexuais como tipos caricatos, doentios e infantis. Estendendo a todos a pecha do rid�culo e da falta de compostura pessoal. As personas midi�ticas, que funcionam como uma esp�cie de semideuses, tem suas imagens esculpidas e divulgadas sistematicamente pela televis�o. O que elas fazem em mat�ria de amor � uma dos motes da exposi��o de padr�es imag�ticos e comportamentais acreditados como ideais. Programas de audit�rio e de �fofocas� acompanham as trajet�rias reais e imagin�rias desses seres, dialogando com a �fome� do grande p�blico de not�cias sobre o que se passa na vida privada dos seus �dolos e �cones, objetos de devo��o no cen�rio sociomidi�tico contempor�neo. H� regras, como em tudo na tv, do que se pode exibir e do que � interditado. Problemas referentes � sexualidade destas pessoas s�o tocados de modo superficial e zeloso. Isto visa n�o mencionar pol�micas e transgress�es consideradas impudicas. Obviamente, em casos excepcionais, estas regras s�o quebradas. Do ponto de vista argumentativo, destaca-se na tv a instrumentaliza��o do amor, que, normalmente, � confundido com o namoro, o noivado, o casamento formal ou o informal. Concelebra-se o contrato, bem mais do que a rela��o. A m�tica do casamento e do desejo de alcan��-lo s�o fartamente reproduzidos na teledramaturgia. Esta argumenta, na maioria dos casos, na defesa do �amor� como solu��o para os problemas das mais diversas naturezas. Este sentimento seria capaz de curar doentes, resolver problemas sociais e econ�micos, em suma, trazer a felicidade irrestrita para todos. S�o comuns os finais felizes no altar, na lua de mel ou na comodidade de um lar ed�nico [10]. A discursividade televisiva deste �amor� �, por um lado, metaf�sica por n�o problematizar este tipo de rela��o interpessoal, tornando-o idealizado e sem qualquer contradi��o. Por outro, � materialista, por relacionar o sucesso e o insucesso afetivos com os problemas materiais da condi��o humana, invertendo a equa��o. Seria este sentimento o caminho para melhorar de vida, solucionando quest�es bem prosaicas, tais como casa, comida, renda e ascens�o social. O �pr�ncipe encantado� �se poss�vel, rico, jovem e bonito� e a �princesa do conto de fadas� �jovem, branca e bela, mas, n�o necessariamente rica� seriam os parceiros idealizados em outros contextos, trazidos e adaptados ao mundo simb�lico atual. A argumenta��o sobre o amor, que � hegem�nica na tv brasileira, afasta-se do sentimento propriamente dito, propondo uma discuss�o reificante. Esta tem natureza confirmat�ria das tradi��es e sensos comuns existentes no tecido social presente, que s�o herdeiras do passado da cultura escrita e oral. N�o h� a discuss�o sobre as possibilidades concretas do sentimento existir e prosperar. Caminham-se, na grande maioria dos programas, em rotas pr�-definidas que excluem outras sa�das. Paradoxalmente, exagera-se sobre a pot�ncia do afeto, mas n�o se fala sobre as condi��es materiais para que dois seres se encontrem. O amor � sobreposto aos demais problemas vividos por pessoas reais, tal como se fosse superior ao mundo da vida. Esta vis�o id�lica �, do ponto de vista liter�rio, pr�-rom�ntica. N�o consegue se aproximar dos padr�es est�ticos do romantismo goethiano e nem chegar � narrativa liter�ria contempor�nea. Reificam-se os sonhos de felicidade afetiva, quase infantis, que povoam as mentes das pessoas comuns. Esta reifica��o tem como ponto de partida e de chegada o afastamento da realidade social. O que se v� na maioria dos programas � uma realiza��o afetiva bem distante da vida social concreta. Esta, de fato, funciona pautada na turbul�ncia destas rela��es. Essa diferen�a entre o midi�tico e a vida concreta parece ser bem aceita pelos tele-audientes. Eles t�m no escape on�rico, um modo de manter suas humanidades, fugindo do confronto com as dificuldades efetivas do mundo da vida. Muito raramente, a tv aberta trata da solid�o de milh�es, da costumeira viol�ncia dom�stica e da infelicidade afetiva de muitos. Quando o faz, a quest�o perde o seu conte�do pol�tico e social mais explosivo. � representada, com exce��es louv�veis, como falhas de car�ter de alguns indiv�duos e n�o como um problema que afeta a sociedade como um todo. Ainda mais raramente, as crises afetivas retratadas s�o relacionadas �s crises do pa�s e aos problemas de conforma��o estrutural da sociedade brasileira. A express�o emotiva e a l�gica dos gostos est�o muito presentes na abordagem do amor e do sexo na tv aberta. A emo��o do tele-audiente � tocada por imagens e textos que representam as m�ticas afetivas e sexuais de modo codificado. O olhar, a aproxima��o, o beijo, o abra�o e o di�logo s�o constru�dos de modo a emocionar, isto �, trazer o que se v� para o cotidiano afetivo idealizado do p�blico. Na tv, se vai da pornografia leve ao drama afetivo de telenovelas �gua com a��car. Existe um amplo leque de varia��es estil�sticas reproduzindo conte�dos similares. Discute-se a fidelidade conjugal, o amor fora, ou antes do casamento formal, o div�rcio e as grosserias sexistas em in�meros programas classific�veis como humor�sticos, de audit�rio ou de entrevistas. Chega-se a trazer para televis�o o drama da prostitui��o feminina e masculina. � poss�vel ver debates com prostitutas e travestis, em programas de audit�rio. Obviamente, que estes problemas s�o tratados por meio do esc�ndalo moral e de uma aparente neutralidade. O que importa � mostrar, criando a como��o p�blica banalizada, sem investigar ou tentar compreender. O choque espetacular dos extremos seduz a audi�ncia e rende lucros comerciais. Nas telenovelas brasileiras de maior audi�ncia [11], a emo��o espetacularizante enfatiza os �pol�gonos� amorosos incont�veis, superando os antigos �tri�ngulos� dos melodramas mexicanos. Vendo-se a programa��o da tv aberta, pode-se ter a impress�o da exist�ncia no pa�s de uma ampla liberalidade sexual. � verdadeiro que a sociedade brasileira � bem mais livre hoje, do que h� cinq�enta anos. Por�m, esta �liberdade� � bem maior nos extratos mais ricos e urbanos da popula��o e a moral sexual tradicional continua a vicejar por toda parte. Por aqui, o grau de difus�o da �revolu��o sexual� da d�cada de 1960 foi restrito �s classes m�dias mais informadas e est� no atual momento em descenso. A nudez feminina, parcial na tv e sem censura formal em outras m�dias, � estimulada e amplamente difundida para atingir o desejo do grande p�blico. Sabe-se que a nudez absoluta � conceitualmente imposs�vel, porque atr�s do olhar de quem capta e edita as imagens existem pessoas que interferem na sua produ��o. Por outro lado, ficar nu frente a uma c�mera significa tamb�m representar um papel. Mulheres jovens s�o exibidas em dan�as e poses sensuais servindo de moldura e atra��o. Alguns rapazes t�m um tratamento similar, mas com menor exibi��o dos corpos, se comparado com o que � exposto das mo�as na televis�o. Algumas dan�as e outras performances sugerem o ato sexual, o strip-tease ou a simples exposi��o de curvas e reentr�ncias. H� limites e normas para o que � mostrado. Existem limita��es de hor�rios e indica��o de faixas et�rias que devem ou n�o ver determinados programas. As interdi��es s�o ainda maiores no que se diz. As imagens �falam� por si pr�prias, fixando gostos e par�metros da beleza feminina e, secundariamente, masculina. Estas mesmas imagens, que dialogam com os tele-audientes, trazem em si a tens�o inerente da diferen�a entre as pr�ticas sociais realmente existentes e poss�veis para a maioria e o que se pode ver na tv. O papel da emo��o � o de fixar os modelos que comp�em esta dimens�o da parole televisiva. Ela convence aos tele-audientes, falando diretamente aos seus sentimentos. H� um claro afastamento de qualquer esfor�o logoc�ntrico. O amor e o sexo s�o tratados como problemas que t�m, quase que somente, fundamentos subjetivos. Tal como ocorre na conversa��o interpessoal brasileira, a tv aberta insiste em n�o explorar os aspectos racionais da afetividade e da pr�tica da sexualidade.
As cr�ticas feitas acima n�o se aplicam a todo e qualquer programa da tv aberta brasileira. Arlindo Machado (2000) est� certo quando defende a exist�ncia de uma tv de qualidade e reclama da demoniza��o deste meio de comunica��o. O amor e o sexo tamb�m s�o tratados, em alguns programas espec�ficos, de modo n�o-alienante. Em algumas obras ficcionais passadas na tv [12], a mesma quest�o surge como arte de grande padr�o e valor. A exist�ncia de programas absolutamente diversos da �normalidade� televisiva indica o fato que o meio pode produzir arte de qualidade, transmitindo valores est�ticos humanistas. Entretanto, a maioria dos programas exibidos insiste no que foi criticado acima. Os produtores da tv aberta dizem que n�o haveria outro jeito. Segundo os publicit�rios, as mulheres jovens e com pouca roupa vendem carros e cerveja. Os apresentadores de programas de audit�rio afirmam que a nudez espetacular e o esc�ndalo moral catalisam a aten��o do grande p�blico, aumentando os �ndices de audi�ncia. Os respons�veis pelos programas de humor defendem o sexismo, o gosto duvidoso, os excessos verbais e o chiste escabroso. Dizem que � isto que o p�blico quer. A audi�ncia seria, segundo eles, a grande respons�vel pela �baixaria� da tv aberta. Contudo, os produtores n�o explicam porque outros programas, que constroem a imagem das rela��es humanas de modo diverso e positivo, tamb�m fazem sucesso. Isto ocorre, mesmo quanto estes t�m menor espa�o e maior dificuldade de produ��o. Culpar a popula��o � o caminho mais f�cil para fugir das responsabilidades. Curiosamente, as pessoas quando s�o entrevistadas, demonstram ter consci�ncia dos problemas �tico-morais de alguns programas que chegam a extremos. Os tele-audientes conseguem diferir a qualidade entre as v�rias emiss�es. Sabem dizer o que mais torpe e menos aceit�vel. Paradoxalmente, acham que � natural o que se v� na tv aberta brasileira, aceitam a tese de que n�o haveria outro jeito. De algum modo, quanto mais torpe e vulgar � o que se v�, tem-se a garantia de audi�ncia. Em alguns casos, programas rivais de hor�rio lutam para se impor, disputando o pr�mio da pior qualidade. N�o se tem d�vida de que o visto na tv, tamb�m existe fora dela, no mundo da vida. A mat�ria com qual � feita a programa��o � retirada da vida social que fornece a areia, o cimento, a pedra e o tijolo do que � representado por este meio de comunica��o. Culpar a tv � outro caminho f�cil. Entretanto, � �til lembrar que o amor e o sexo existentes na sociedade brasileira s�o muito mais complexos do que suas imagens obl�quas representadas por este ve�culo de massa. A cultura brasileira n�o est� inteiramente representada nesta m�dia. Ao contr�rio, percebe-se uma tens�o entre os modos brasileiros de conceber a afetividade e a sexualidade com o que as m�dias reproduzem. O problema est� na compreens�o que a tv � um objeto social, isto �, uma ferramenta usada na tessitura da ordena��o sociocomunicacional contempor�nea. Por isso, reproduz as peculiaridades, diferen�as e semelhan�as do que existe fora dela. Certamente, a tv n�o representa integralmente o tecido social, nem isto � o seu objetivo maior. Ela tem m�ltiplos sujeitos e interesses com ordens de pot�ncia diferenciadas. As imagens tecidas do amor e do sexo � brasileira s�o alguns dos aspectos da parole televisiva hegem�nica no pa�s. Esta parole � principalmente a do poder, isto �, o jogo da domina��o est� inscrito nas suas caracter�sticas. A raz�o instrumental adorniana, isto �, a da t�cnica voltada para a obten��o de lucros, sem quaisquer preocupa��es humanistas, comanda as decis�es da programa��o e o apelo dos anunciantes. Fala-se do amor e do sexo na tv, procurando acrescer valores simb�licos que levem ao consumo e, ao mesmo tempo, se comunicar com o grande p�blico, respeitando, at� certo ponto, os seus princ�pios morais. Os programas de maior audi�ncia e a grande publicidade trabalham com evid�ncias sobre a percep��o dos consumidores e com par�metros de mercado. Estes s�o constru�dos e reconstru�dos de acordo com os �ndices de audi�ncia, estrat�gias de marketing e sondagens de opini�o. A tv � um grande neg�cio e o emprego de muita gente. A empresa de tv vive da venda dos seus produtos. Precisa da a��o coordenada do seu pessoal t�cnico e art�stico, da aceita��o dos seus consumidores e do aval financeiro de seus anunciantes. Todas estas intrincadas engrenagens s�o acionadas para produzir o conjunto de representa��es que sustentam centenas de programas. Por tr�s de cada fala, gesto ou situa��o afetiva e sexual h� o movimento de pessoas, m�quinas, materiais, energia e dinheiro, muito dinheiro. Os tele-audientes teriam, como ressalta Martin-Barbero e seus colaboradores (1997; 2001), o poder de influenciar a programa��o. Entretanto, n�o � poss�vel acreditar que este poder seja ilimitado. Os demais sujeitos �sobretudo, a produ��o e os anunciantes� lutam para impor os seus pontos de vista e fazer escolhas, em condi��es muito mais favor�veis do que as do p�blico que consome os artefatos culturais produzidos pela tv brasileira. O poder de discernimento do p�blico � afetado por um modo consagrado de se contar uma hist�ria, que � mimetizado pela programa��o. A posi��o social ocupada pelo grande p�blico � a de consumidor, lembra, com a devida adapta��o, a a��o de escolher entre as ofertas existentes em g�ndolas dos supermercados. Ele pode se negar a consumir, pressionar por mudan�as, reclamar da qualidade, escolher marcas diferentes etc. Todavia, n�o tem o mesmo poder do que o desfrutado pelos propriet�rios e seus representantes. O grotesco [13] mercantil televisivo de nosso tempo est� muito longe do uso deste recurso est�tico como arma de combate liter�rio, tal como o fez Rabelais, de acordo com a descri��o de Bakhtin (1993). Na performance dos c�micos, � poss�vel constatar que os melhores armam suas par�dias e outras imita��es em camadas. Normalmente, come�am com o grotesco rabelaisiano, prenhe de cr�tica social, desaguando ao fim de tudo em uma pantomima mon�tona e mim�tica, sem aprofundar a cr�tica e dar conseq��ncias est�ticas �s suas representa��es. Estas versam, em in�meros casos, sobre a problem�tica da afetividade e da sexualidade. O amor e, ainda mais, o sexo sem amor s�o transformados, em v�rias apari��es nos programas, em algo vazio de sentido ou infantilizado. Desaparecem as dramaticidades rom�nticas alcan�adas pela literatura e pelo teatro cultos, e a luta moderna contra a repress�o sexual institucional e intraps�quica. Vence a simplifica��o moralista e a id�ia da quantidade, conveni�ncia e mecanicidade dos atos sexuais. A tens�o imanente ao desejo sexual � esvaziada na dire��o do lado institucional do problema, isto �, nos liames que ligam o sexo e o amor � tessitura social. A programa��o, como diria Breton (1999), reenquadra a realidade material sobre o amor e o sexo. Os paradigmas deste reenquadramento s�o o conto de fadas, os demais mitos da metaf�sica do amor na sua vers�o mais popular e a repress�o sexual de origem religiosa, mesmo que travestida e modernizada. Seguindo este caminho, os g�neros biol�gicos s�o colocados em oposi��o �guerra dos sexos� e o sexo � tratado em separado da afetividade. O mundo masculino e o feminino compartilhariam sentimentos e trocariam flu�dos, mas dentro de par�metros de isolamento e distin��o. A parole varia um pouco de acordo com o p�blico para a qual ela � dirigida. Nos programas destinados ao p�blico infantil h� uma forte sexualiza��o simplificada, destinada a criar novos consumidores de artigos que os preparam para a vida adulta. Nos feitos para o grande p�blico, o amor e o sexo s�o reenquadrados como pe�as fundamentais da exist�ncia, absorvendo completamente a vida dos personagens. Desaparecem o trabalho, o contexto sociopol�tico envolvente e as demais rela��es interpessoais. Constroem-se mitos sobre a vida familiar e sobre as reais possibilidades de conv�vio. Os problemas existentes no mundo da vida, conhecidos dos tele-audientes, s�o relativizados ou suprimidos, enfatizando-se um ambiente on�rico, onde tudo � poss�vel e realiz�vel. � poss�vel transitar neste ambiente e no do mundo concreto ao mesmo tempo, tendo-se a ilus�o de que ambos t�m a mesma natureza. Os desejos acalentados na vida concreta, na tv s�o �reais�, e se pode contar com a permanente cumplicidade do p�blico. Atores e personagens confundem suas vidas aos seus pr�prios olhos e frente ao p�blico. O p�blico imagina a veracidade do que v�, dentro de um esquema criado para tal. A vida passada pela televis�o � incorporada ao conjunto de rela��es simb�licas e materiais da grande massa. Por isso tudo, � que se acredita na exist�ncia de um culto �s m�dias, capitaneado pela tv aberta. Fontes 1 - Refer�ncias bibliogr�ficas Adorno,
Theodor W., Horkheimer, Max, 1985. Dial�tica do
Esclarecimento.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 254 pp. A edi��o em
alem�o
� de 1969.
�
A Noite � uma Crian�a, de entrevistas, comandado por
Oct�vio
Mesquita, exibido na Tv Bandeirantes, de segunda a s�bado
�s
01:05h, tendo a dura��o de uma hora e dez minutos.
A observa��o dos programas, citada acima, foi feita com o aux�lio de grades de pesquisa, sugeridas por Philippe Breton em seu livro A argumenta��o na comunica��o. As grades foram aplicadas pelas bolsistas citadas e revisadas pelo autor. Alguns dos programas citados j� est�o fora do ar, por efeito de decis�es judiciais ou pelo esgotamento da �f�rmula� usada. Outros sofreram modifica��es importantes. Mas, a t�nica da parole sobre o sexo e o amor na tv aberta brasileira continua sendo mais ou menos a mesma coisa. Abaixo, reproduz-se uma destas grades em estado bruto, para que se possa ter uma id�ia da metodologia usada. �Argumenta��o
afetivo-sexual na televis�o aberta brasileira�.
GRADE
DE INVESTIGA��O Patrocinadores, detalhados bloco a bloco: No Cora��o do Brasil (programa que esteia na pr�xima sexta-feira), Casas Bahia, SKY, Buscopan, Quem, Insinuantes, Est�ncias Maric�, Cacique, Yp�, Casas Bahia, Primor, Floribella, Tixan Yp�, Primor/ Joga 10 (reality show que estr�ia no pr�ximo domingo), Casas Bahia, Visa Melhor Idade, governo Federal, Casas Bahia, Dove, Disk Galera, Terra Sertaneja (dom, 14h30)/ Floribella, Casas Bahia, SKY, Clube do F� (qua, 17h30), Prezunic, Scala Rio, Always, Est�ncias de Maric�, No Cora��o do Brasil/ Dixan, Yp�, Primor, Boa Noite Brasil, SKY, Mucosolvan, NET, Sabad�o do Falt�o (espet�culo teatral em cartaz), Sapataria Terezinha, Di Santinni, Jornal da Noite. H� tamb�m as propagandas feitas durante o programa, apresentadas com o aux�lio de uma grava��o, como � o caso dos produtos Tek Pix, Bio Estilo, Cogumelo do Sol, Breeze Cam, Top Therm e Phebo. O p�blico alvo � formado principalmente por mulheres das classes C, D e E, que n�o t�m ocupa��o fora do ambiente dom�stico. Descri��o detalhada do programa: Sem vinheta de abertura, o programa tem in�cio com a apresentadora Leonor Corr�a falando apressadamente sobre as receitas que ser�o ensinadas pelo cozinheiro Fernando Carneiro, enquanto as c�meras passeiam pela mesa sobrevoando as guloseimas. Sua indument�ria � s�bria e social, semelhante a um terno feminino. O cheff come�a a preparar um doce de ab�bora em um tacho de cobre. Deixa a panela no fogo e dirige-se � mesa, onde apalpa a massa de um quibe. D� a receita enquanto prepara o pirex para levar ao forno. Os dois dirigem-se ao tacho com o doce e a apresentadora enumera os ingredientes e o modo de preparo com velocidade inacompanh�vel. A legenda, na parte inferior da tela, repete tudo mais lentamente. Depois ela caminha em dire��o ao centro do palco, onde passa apressada por dois homens sentados em poltronas cont�guas e apresenta-os apenas como convidados a serem entrevistados. Anda at� o canto direito e anuncia a c�mera digital Tek Pix, com o aux�lio de uma assistente de palco. Diz que depois dos comerciais apresentar� os convidados e o resultado das receitas. Uma tela azul com bocas tagarelando e bal�es de di�logo sinaliza o intervalo e tamb�m a abertura do segundo bloco. Apressada, a apresentadora aponta o cheff Fernando Carneiro mas logo volta-se aos convidados, introduzidos como Dunga e Carlinhos de Jesus. O primeiro recebe toda a aten��o das c�meras e comenta seu papel como jurado no pr�ximo reality show da Band, Joga 10, patrocinado pela emissora e pela Nike. Ao lado de Zagallo e Bebeto o ex-jogador dever� selecionar jovens de 14 e 15 anos para disputarem uma vaga como titular em um grande clube nacional, a saber, Flamengo ou Corinthians. Leonor promete falar sobre o Esporte Clube Cidad�o, ou Funda��o Dunga, e arrasta-se em sua cadeira at� o stand de vendas, onde um homem anuncia a linha de produtos Bio Estilo. Indica ao c�mera o cozinheiro e diz que depois dos comerciais poder� mostrar os pratos sa�dos do forno. No terceiro bloco a apresentadora anuncia a promo��o que premia com uma cafeteira el�trica o autor da melhor frase constru�da com as palavras sol, bolo e sogra e volta � bancada de produtos, onde outra mulher anuncia o Cogumelo do Sol. Outra vez ao lado de Dunga, Leonor fala sobre a sua funda��o, que oferece a menores de baixa renda assist�ncias como refor�o escolar, esporte, lazer e cultura, enquanto um v�deo mostra cenas das crian�as jogando futebol. A legenda diz que o ex-jogador ser� jurado no reality show. A apresentadora agradece a presen�a de Dunga e o cozinheiro se oferece para preparar um jantar a ele e aos 22 garotos escolhidos na primeira sele��o. Leonor dirige-se ao balc�o de an�ncios e faz a propaganda da Breeze Cam, com o aux�lio de uma grava��o. Depois senta em frente ao outro convidado, Carlinhos de Jesus, que j� est� acompanhado de uma dan�arina esguia com traje pequeno e decotado, apresentada como Sheila. Leonor diz que entrevistar� os dois ap�s os comerciais. No quarto bloco Fernando Carneiro � enquadrado apenas o tempo suficiente para a apresentadora repetir o nome dos dois pratos que ele j� preparou. Depois o foco fecha no livro �Vem Dan�ar Comigo�, autobiografia do dan�arino Carlinhos, lan�ado na Bienal. O autor fala sobre sua longa carreira, iniciada aos 4 anos de idade, e conta as dificuldades por que passou at� tornar-se dan�arino profissional. Aproveita tamb�m para divulgar a estr�ia de seu espet�culo em S�o Paulo. Leonor pede licen�a para dar um recado e volta ao balc�o de an�ncios, onde outro homem faz a propaganda da iogurteira Top Therm, auxiliado por um v�deo com sugest�es de uso. A apresentadora chama ao vivo a rep�rter Carol, que cobre o ac�stico Band FM, onde a dupla Rick & Renner oferece um show como cumprimento de pena por homic�dio culposo. De volta ao est�dio, Carlinhos de Jesus oferece um livro autografado � apresentadora e ela repete o discurso sobre a estr�ia do espet�culo em S�o Paulo. Leonor pergunta ao dan�arino como uma leiga pode aprender a dan�ar, ao que ele responde com um gesto convidando-a a uma demonstra��o. �O homem conduz, a mulher acompanha�, ele ensina. Depois deixa a apresentadora na poltrona e tira sua companheira para exibirem um n�mero. De p�, a dan�arina exibe um vestido preto, muito curto e rodado, e tem as costas nuas at� a altura do quadril. A cada movimento de suas pernas a saia eleva-se, deixando � mostra as pernas compridas e a regi�o gl�tea. Os passos ensaiados s�o bem sincronizados e demonstram a desenvoltura do par. Afastando-se do casal a apresentadora anuncia a linha de produtos Phebo e promete mais atra��es para depois dos comerciais. No quinto bloco Leonor Corr�a cita rapidamente o nome da vencedora do concurso anunciado e parecendo apressada agradece ao cozinheiro, que tem alguns segundos para divulgar o Festival de Sopa do Consulado Mineiro. Comenta novamente o espet�culo do dan�arino e encerra o programa com outro n�mero do par, que baila lentamente no meio do palco. A imagem dos dois � reduzida � metade da tela, enquanto os cr�ditos correm verticalmente no lado oposto.
Leonor Corr�a, apresentadora e jornalista, tem a imagem de sua persona midiatica associada a programas destinados especialmente ao p�blico feminino. Nascida em 14 de dezembro de 1962, em Araras, interior de S�o Paulo, a irm� do apresentador Faust�o come�ou na imprensa aos quinze anos, publicando cr�nicas e poesias em um suplemento feminino de um jornal de S�o Paulo. Iniciou seu trabalho na TV em 1985 e seu primeiro desafio foi apresentar um programa feminino chamado A Tarde � Mulher, na extinta TV Princesa, em Campinas. Tamb�m foi rep�rter em outras cidades, como Ribeir�o Preto, Araraquara e Varginha. O trabalho que a tornou conhecida pelo grande p�blico foi o programa Vitrine, na TV Cultura, nos anos de 90 e 91, com reportagens sobre os bastidores da televis�o. Desde essa �poca Leonor come�ou a se dedicar � dire��o de programas e passou por quase todas as emissoras: SBT, Globo, Record e Band. Em 2002 ela volta � rotina dos programas femininos como apresentadora do programa A Casa � Sua, na Rede TV!. Neste mesmo ano Leonor submete-se � uma opera��o de redu��o de est�mago, por quest�es de obesidade, e reduz seu peso de 126 para 67 kg. Em 2003 a apresentadora retorna � Band como diretora de programas especiais e de n�cleo, e a partir de fevereiro de 2005 assume o comando do Melhor da Tarde, que segue a mesma receita dos chamados programas femininos: fofoca, culin�ria, artesanato, beleza etc.
Ver an�lise do programa A Noite � Uma Crian�a.
3.
Argumentos utilizados e modo como s�o
veiculados: No programa Melhor da Tarde os argumentos s�o constru�dos com base naquilo que se acredita ser o arqu�tipo da mulher popular contempor�nea. Refletindo os pensamentos e as pr�ticas da nossa massa social, o programa j� deixa expl�cito seu car�ter sexista quando define o hor�rio da tarde para exibir mat�rias sobre futilidades destinadas ao p�blico feminino, ocioso ou acess�vel neste per�odo do dia. No decorrer do programa outros di�logos indiretos (que se propagam atrav�s do conte�do divulgado) revelam a mesma postura. A desvaloriza��o da mulher � evidente nas mat�rias selecionadas, que abordam apenas temas como artesanato, moda, fofocas do meio midi�tico, sa�de, beleza e culin�ria. Atrav�s da restri��o imposta ao universo feminino, limitado �s banalidades cotidianas, as mulheres s�o exclu�das de discuss�es importantes como pol�tica e economia, e caricaturadas como seres alienados, incapazes de compreender o mundo externo � sua casa e � TV. Al�m disso a imagem da apresentadora (terno s�brio, sugerindo independ�ncia e dinamismo) contrasta com a vis�o conservadora que pensa a mulher como dona-de-casa submissa e fiel na satisfa��o dos desejos e necessidades do seu marido. Como exemplo, as chamadas das mat�rias divulgadas no site do programa, como �prepare um prato especial para o seu amor�. H� tamb�m argumentos que embutem a vis�o rom�ntica do amor, idealizado como em contos de fadas e romances de folhetim, e associado �s pr�ticas e deveres da tradi��o cat�lica. O casamento surge como a chave para a felicidade da mulher, que deve estar preparada para a sua vez de entregar-se a um homem, como indica a chamada no site: �Modelos originais fazem a cabe�a das mulheres na hora de entrar na igreja�. Para preservar estes dogmas, a avalia��o constante dos relacionamentos amorosos das personas midiaticas assume um car�ter normatizador, julgando os comportamentos que devem ser aceitos ou n�o nas rela��es conjugais e sociais. Outro argumento divulgado com �nfase peculiar � a valoriza��o da est�tica feminina, de acordo com os padr�es ocidentais contempor�neos. O fato da apresentadora Leonor Corr�a ter se submetido � uma cirurgia de redu��o de est�mago alguns meses antes de ser escalada para a lideran�a do programa suscita uma quest�o importante. O seu caso de obesidade (ela pesava 126 kg) pode ser considerado como amea�a real � vida e portanto n�o � propriamente uma cirurgia est�tica. No programa, por�m, esta distin��o n�o fica bastante clara, como podemos perceber no quadro �O que � Meu � Seu�, onde as teleobservadoras concorrem a �banho de loja, uma temporada no spa, um tratamento de beleza (maquiagem e cabelos) e, at�, uma cirurgia para redu��o de est�mago.�, segundo informa o site. Para participar basta estar �acima do peso�, o que � bastante subjetivo, uma vez que os nossos padr�es de beleza, que pregam a magreza extrema, consideram qualquer �gordinho saud�vel� como uma agress�o grotesca � est�tica. Mais um argumento afetivo pol�mico disseminado pelo programa � a empatia absoluta pelos �astros� midi�ticos. A dupla Rick & Renner � aplaudida em um show comunit�rio, patrocinado pela emissora, quando Renner est� cantando para cumprir a pena por homic�dio culposo, depois de tirar a vida de duas pessoas em um acidente de tr�nsito. Uma mamata que s� os criminosos bem apadrinhados podem desfrutar. Sugest�es de leitura complementar: Artigo
da Revista F�rum, sobre est�tica. Por Marco
Frenette. Artigo
do Estad�o, sobre o crime cometido por Renner. Por Oswaldo
Faustino.
[1] Reich escreveu seus livros entre as d�cadas de 1920 e 1940. Destes, um dos mais importantes, A fun��o do orgasmo, teve no Brasil dezenove edi��es. A atualmente dispon�vel � a reimpress�o (2004) da edi��o brasileira de 1995. [2] Ver Carne e Pedra, de Richard Sennet. [3] Veja-se, em um entre m�ltiplos exemplos poss�veis, o caso das guar�nias paraguaias. [4] Existem v�rios formatos de programas da tv brasileira que podem ser considerados teledramat�rgicos. De certo modo, at� mesmo os telejornais resvalam em estilos que lembram a constru��o teatral. Entretanto, as telenovelas, com seus milh�es de tele-audientes, reinam soberanas. As que passam no hor�rio nobre podem alcan�ar a incr�vel soma de 80 milh�es de pessoas as vendo, no mesmo dia. [5] As teles�ries s�o, em muitos casos, um espa�o maior para uma arte mais refinada e de autoria respons�vel. S�o em poucos cap�tulos, usando, quase invariavelmente, hor�rios menos comerciais. Mas, h� um caso � A grande fam�lia � que combina sucesso de p�blico, qualidade art�stica e hor�rio de maior audi�ncia. [6] Recentemente, as m�dias noticiaram o uso feito pela Rede Globo de TV de um software capaz de operar uma cirurgia pl�stica virtual. Com o uso deste recurso, atrizes maduras parecem ser bem mais jovens, isto �, suas imagens s�o modeladas de acordo com os valores de consumo acreditados na sociedade brasileira. [7] Ver obra de Breton, de 2002, escrita em colabora��o com Proulx, que prop�e uma vis�o n�o estritamente informacional da comunica��o humana. [8] No sentido de subst�ncia b�sica da comunica��o, incluindo a fala, a escrita, as imagens, os gestos, isto �, tudo que se pode usar para a comunica��o entre as pessoas. [9] Trata-se de um tema muito usado nos programas humor�sticos, em destaque, para o Pra�a � Nossa (SBT) e o Zorra Total (Globo). [10] Ver os roteiros das telenovelas mais vistas no pa�s (Globo). [11] A Rede Globo domina este segmento do mercado televisivo. [12] Ver: a maior parte das tele-s�ries (sitcoms) e hist�rias contadas como �casos especiais�, produzidas, em sua maioria, depois do fim da ditadura (1985). Algumas telenovelas de grande p�blico, notadamente as escritas por Dias Gomes, alcan�aram alto padr�o est�tico, sendo v�rias vezes censuradas. Nos �ltimos anos, esse g�nero foi bastante pasteurizado. Na fase inicial da tv brasileira, os teleteatros eram adapta��es, com muitos limites t�cnicos, de obras cl�ssicas da dramaturgia mundial. Aos poucos, a tv cresceu e se afastou de uma proposta hegem�nica mais art�stica, tal como nos seus primeiros passos. Entretanto, esta marca de algum modo ainda est� presente, por meio dos esfor�os dos artistas que nela trabalham. Isto fica n�tido quando eles s�o chamados a atuar, no lugar dos seus colegas sem maior preparo, por�m enquadrados e subsumidos pelas institui��es. [13] Ver obras de Muniz Sodr� e Raquel Paiva. [14] Agrade�o a paciente colabora��o de minhas bolsistas de inicia��o cient�fica Luar Grinberg e B�rbara Fontes que reuniram, em 2005, dados fundamentais sobre estes programas. Na verdade, este texto vai al�m dos mesmos, incluindo a observa��o pessoal de seu autor, do conjunto da tv aberta brasileira.
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